6.6.08

Dúvida Atemporal

O tempo e a crueldade do tempo.

Ouvi esta frase num documentário recente, enquanto pensava sobre as imagens produzidas pela Adauany Zimovski. Aparentemente seria quase um antagonismo associar esta frase ao seu trabalho, pois ela afirma não se interessar muito pela carga do tempo nos prédios que fotografa, mas sim numa configuração lógica e poética de sua arquitetura externa - não sendo portanto apenas uma constituição histórica.

Vendo seus desenhos percebo um encontro de ângulos bem definidos, ao deixar transparecer sempre uma construção temporal do gesto, possibilitando assim traçar seu campo de interesse numa geometria muitas vezes irregular. Intervalos temporários é como afirmar duas vezes a mesma coisa. É tautológico. Este termo criado por ela é auto-explicativo. A memória que é sua e não do fruidor, porém isto é algo que a artista não tem como controlar, o que torna a equação: artista – espectador, elementar e fundamental.












A produção de Adauany é a sua própria trajetória de apreensão do mundo e das coisas. Um tempo que não voltará, porém através das imagens consegue transfigurar sua passagem por determinados caminhos da cidade, encontrando recortes nas paredes dos prédios dotados de sentidos. Algumas vezes necessita um certo afastamento desse olhar afetivo criado por meio das janelas que vivencia, aí sua carga poética é potencializada. A crueldade que associei a ela está mais no rigor de sua produção , do que num ato pungente ou doloroso.

O que vem primeiro? Os desenhos? As imagens dos intervalos nos prédios?

Penso que ocorre sempre um gesto anterior para traçar seu domínio imagético. Uma ação que pressupõe outra, desordenando uma possível medida sem saída onde muitas vezes podemos nos encontrar. Um esgotamento da linguagem. Não é o seu caso, pois a artista escapa do seu próprio claustro para daí encontrar outras dimensões que sua natureza percebe.Adauany não se detém apenas em registrar seu trajeto, mas sim aprofundar um pensar medido pelas superfícies. Nada superficial. Não se esgota numa rápida leitura. Torna-se necessário então, criarmos um intervalo para poder corrigir nosso olhar frente as suas construções gráficas. O olho corrige sempre as nossas imperfeições?

Isto será sempre uma dúvida cruel.

Alexandre Antunes
Junho / 2008

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