11.10.08

_MONTAGEM
Fotos: Tina Winck


Plano Experimento


Plano Experimento é o título da exposição conjunta dos artistas Adauany Zimovski e Marcos Sari, que se realiza no Atelier Subterrânea, a partir de 16 de outubro de 2008. Para este título, nada poderia ser mais justo! Os planos parecem estar presentes nos trabalhos dos dois artistas que os exploram de formas diferentes e próprias, a partir de suas experiências, criando propostas novas, criativas, cada vez mais sólidas e nos submetendo a somarmos as nossas experiências às deles.


Em seus trabalhos, Adauany geralmente nos oferece um conjunto de planos que constrói uma figura gráfica capaz de nos deixar em total incompletude da informação. Uma sensação de olhar apenas para um fragmento do que pode ser o todo. A partir de uma superfície qualquer, Adauany utiliza-se de cantos; apresenta e direciona os nossos olhares para pontos não convencionais, deixa-nos com sede, em sensação de busca. Seus desenhos, em branco e preto, exploram movimentos mais densos em regiões de mínima importância formal, deixando os espaços mais nobres para linhas soltas. Um reajuste no nosso olho se dá a cada momento a partir dessas observações: uma vertigem, um desequilíbrio, mas ao mesmo tempo, uma liberdade, um espaço aberto. Suas fotos caminham no mesmo sentido. A imagem real urbana, que poderia ser despercebida por qualquer transeunte, se torna uma forte imagem delimitada em função da escolha da artista para chamar a atenção a cores e planos específicos, mas cuja escolha nos deixa sempre em sensação de falta. Olhar para onde, procurar o que, delimitar o que? Talvez seja esse o ponto forte do seu trabalho: as perguntas, não as respostas.


Marcos, por sua vez, desloca seus planos para além do suporte. São planos desrespeitosos. E os seus planos não são apenas caracterizados por uma superfície e seus limites, mas por uma densidade de cor que revoga uma quantidade de espaço como seu, ou por uma associação de densidades de cores revogando os seus próprios espaços para si. O espaço,por sua vez, deve ser entendido de forma muito ampla: uma folha de papel, uma placa de MDF, uma sala, uma galeria.


Para a exposição no Atelier Subterrânea, Adauany nos oferece uma foto maior, pequenos trabalhos fotográficos e um trabalho feito diretamente sobre uma das paredes da galeria. Este último se define ali, naquela superfície, a partir dos recursos que a própria parede oferece: camadas de tintas em diferentes cores e texturas sobrepostos a tantas outras camadas de tintas. A partir desses recursos, Adauany nos revela estas cores, construindo sua composição a partir das informações e registros que aparecem. Há um respeito pela memória do lugar, mas sem se apreender aos seus referenciais históricos. Adauany usa essa memória como uma ferramenta, apenas, apropria-se dela como se apropriaria de uma bisnaga de cores. A memória é um fato dado. E a sua composição se revela a partir de planos definidos por linhas claras, ou esmaecidas, que convidam o observador a se perder, a se incompletar.











Marcos nos oferece pequenas composições delicadamente dispostas em seus suportes e uma cor densa e fechada, delimitada por linhas retas, que se projeta em direção a uma parede sem respeitar pequenos planos que possam aparecer em sua trajetória ou limites arquitetônicos mais claros do lugar, mas sempre flertando com eles. Esse plano de cor em forma geométrica evoca todo o espaço interno e externo da galeria, e se reverbera em elementos que se relacionam com ele: verdes “borrados” materializados em plantas situadas em locais estratégicos. Elementos de simetria e de projeção estão espalhados por todo o lugar. Todo o espaço se ativa em função de uma composição cuidadosamente escolhida. A cor é a chave do trabalho de Marcos. É a cor em sua obviedade pura que se espalha pelo espaço criando algo que pode ser entendido simplesmente por cada unidade que a compõe, ou pela complexidade de todo o seu conjunto. Enquanto Adauany nos apresenta fragmentos de planos nos deixando em estado de suspensão, Marcos nos insere dentro deles, magnificando-os. Em ambos os casos, nos encontramos perdidos e livres... e essa sensação de liberdade pode ser tão dura quanto a de não tê-la conhecido.


Rommulo Conceição – outubro/2008

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